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Educação Sete Lagoas

Renato Azeredo, 40 anos: quando a escola chega antes do bairro e ensina a cidade a crescer

Celebrar a Renato Azeredo é celebrar uma ideia de cidade

Há noites em que uma escola não “faz um evento”: ela se reconhece. No dia 17 de dezembro de 2025, no Teatro Redenção, a celebração dos 40 anos da Escola Estadual Deputado Renato Azeredo foi menos uma cerimônia formal e mais um espelho coletivo — daqueles que devolvem à comunidade escolar algo que o cotidiano, às vezes, esconde: a dimensão humana, histórica e territorial de uma instituição pública que atravessa gerações. 

O encontro reuniu estudantes, servidores, ex-alunos e famílias em torno de um sentimento difícil de resumir em palavras simples: pertencimento. O tipo de orgulho que não nasce de slogans, mas de lembranças concretas, de histórias de corredor, de projetos que deram certo apesar das dificuldades, de gente que passou pela escola e voltou, anos depois, carregando no corpo e na fala a prova de que estudar muda rotas. 

A escola como marco geográfico: o bairro ainda estava “começando” 

Para entender por que esse aniversário pesa tanto, é preciso lembrar o lugar — e o tempo. A Renato Azeredo surge nos anos 1980, no bairro Interlagos, quando a região era muito menos povoada. Para muitos moradores, era uma Sete Lagoas de limites mais curtos: poucas casas se espalhavam em direção ao Nova Cidade, ao Luxemburgo, e além desses contornos a cidade praticamente se dissolvia em vazios. Nesse cenário, construir uma escola pública não era apenas abrir turmas; era lançar um sinal de futuro. 

É aqui que a escola deixa de ser “prédio” e vira território. Quando uma instituição de ensino se instala na periferia, ela faz algo que nem sempre aparece no debate público: ela ajuda a produzir desenvolvimento social e urbano. A escola atrai circulação, consolida vínculos comunitários, organiza rotinas, amplia horizontes e, sobretudo, forma gente. Em muitos bairros, antes de chegarem outras referências — serviços, comércio, equipamentos culturais — a escola já estava lá, sustentando um centro de gravidade que muda a maneira como a cidade cresce. 

Memória que pulsa: cultura, autoria e afeto em cena 

A celebração foi desenhada com um fio condutor claro: cultura como linguagem de identidade e como ferramenta de educação. As apresentações de carimbó protagonizadas por estudantes, por exemplo, não funcionaram apenas como “atração”. Elas colocaram no palco a ideia de movimento — o corpo coletivo da escola, vivo, diverso, em diálogo com expressões culturais que ampliam repertórios e dizem algo sobre o Brasil para além do óbvio. 

Na mesma direção, o lançamento da 8ª edição do Jornal da Escola, produzido pelos alunos em versão especial, tem um significado que vai além da comemoração. Quando estudantes escrevem a própria história e organizam memória em forma de texto, a escola não está apenas registrando fatos: está formando autoria, senso crítico, responsabilidade com a palavra pública. É um gesto pedagógico e político — no melhor sentido do termo — porque afirma que os alunos não são plateia; são narradores. 

Outro ponto de forte potência simbólica foi o trabalho interdisciplinar que resultou em caricaturas de servidores atuantes em 2025, com orientação da professora de Arte, Ana Paula, em parceria com outros educadores. Ao transformar servidores em personagens homenageados, a escola faz um movimento bonito e raro: dá rosto àquilo que sustenta a educação por dentro. A memória, nesse caso, não é uma vitrine distante; é um abraço coletivo que reconhece quem cuida, quem organiza, quem acolhe, quem mantém a engrenagem humana funcionando. 

O vídeo com imagens de momentos marcantes — projetos, eventos, encontros — costurou o que estava no ar: a trajetória da Renato Azeredo não se explica apenas por datas ou nomes. Ela é feita de relações. De tentativas. De recomeços. De vitórias pequenas que, somadas, viram um legado. 

Referência não nasce do acaso: legado, gestão e continuidade 

Nenhuma escola se torna referência só por tradição. Referência se constrói com continuidade, com projetos que não morrem na primeira dificuldade, com lideranças que sabem ouvir, com professores estimulados a criar, com uma comunidade que não se sente descartável. E, nessa história, a Renato Azeredo carrega marcas de gestões que se tornaram memória afetiva e institucional. 

Nos relatos de quem viveu diferentes fases, a lembrança do diretor Arquimedes aparece como símbolo de um período de forte impulso — alguém associado a projetos, a organização e a uma escola frequentemente escolhida para iniciativas experimentais do Estado, trajetória que, mais tarde, o levaria a assumir funções de maior alcance na educação regional. Mesmo sem reduzir a história a uma única figura, essa lembrança ajuda a entender um traço da instituição: a capacidade de ser laboratório de boas práticas e de se colocar, repetidas vezes, como protagonista. 

Ao longo dos anos 1990, 2000 e adiante, a escola manteve essa presença em diferentes frentes: projetos científicos, atividades culturais, participação e destaque em campeonatos esportivos e ações que conectam aprendizagem com vida concreta. Esse conjunto — que atravessa décadas e gestões — é o que explica por que a escola segue sendo lembrada quando se fala em iniciativas de impacto na região. 

O presente como continuidade do melhor passado: o papel de Anne Pontelo 

É justamente por isso que, ao final dessa celebração, faz sentido dar nome ao presente. Nos últimos anos, sob a condução da diretora Anne Pontelo, a Renato Azeredo tem conseguido algo que é, ao mesmo tempo, simples de dizer e difícil de realizar: manter o legado de gestões bem-sucedidas sem transformar a escola em museu de si mesma. Preservar o que funciona e, ao mesmo tempo, abrir espaço para novas demandas — inclusão, socialização, projetos contemporâneos como robótica, metodologias que aproximam estudante e aprendizagem — exige equilíbrio, escuta e coragem. 

Gestão escolar, quando é bem feita, não aparece só em atas e horários: aparece no clima de pertencimento, na confiança entre equipe e comunidade, na energia que permite que projetos nasçam e se sustentem. E o que a noite dos 40 anos mostrou — de modo emotivo, direto, quase palpável — é que há um esforço consciente em manter a escola viva, relevante e respeitada. Não apenas como “a escola do bairro”, mas como uma escola que representa a região, que puxa o debate educacional para cima e que não abre mão do cuidado como princípio. 

Por que celebrar 40 anos é mais do que comemorar 

Celebrar a Renato Azeredo é celebrar uma ideia de cidade. Uma cidade que não pode aceitar periferias como margem definitiva, nem escolas como mera resposta burocrática. Porque, quando uma escola pública fincada em área periférica dá certo, ela faz algo precioso: transforma a geografia do possível. Ela amplia destinos individuais e, ao mesmo tempo, reorganiza expectativas coletivas. 

Quarenta anos depois, a escola segue sendo aquilo que, no fundo, sempre foi desde que surgiu em um Interlagos ainda em formação: um lugar onde a cidade aprende a se enxergar melhor — e onde muitos jovens, pela primeira vez, aprendem a enxergar um futuro que parecia longe. E é por isso que esse aniversário não é só um número. É a confirmação de uma presença: firme, humana e necessária. 

Por Washington Eloi Francisco

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